Antes de
ser porteiro, trabalhei quase um ano de limpador: faxineiro mesmo. E uma das
conversas com meus colegas de serviço, chamou-me atenção. Foi quando estava
começando. Um rapaz nos disse:
– Sou
grato está empresa. Mandei currículo para várias firmas e, está foi a única que
me chamou.
Aí
comecei a pensar, mas de imediato fui interrompido, porque ele continuou:
– Eu não
sei ler, esse foi o motivo das outras não ter me empregado, acho tão bonito as
pessoas que sabem ler. Hoje estou feliz, o supervisor me chamou e disse que
subirei de cargo, limpador de vidro.
Entendi
a felicidade dele, todos demos os parabéns, mas havia uma tristeza dentro de
mim, igual há agora. A promoção de cargo: trabalhar mais pelo mesmo salário.
Igual a ele fiquei contente, com a promoção, aprendi a ser porteiro. Não só
isso, outras possibilidades, dentro de mim se afloraram. E desde então, me
capacito para elas.
O que me
chamara a atenção, não fora a nossa transição de cargo. Mas o modo como
proferiu, “acho bonito quem sabe ler”.
Alguém
lhe tirou o direito de no mínimo, aprender a ler, e com isso, seus sonhos foram
minimizados.
Talvez
esteja errado por ser porteiro ou por ter sido um faxineiro, quem dá ouvido a
esse tipo de gente, que tem serviço de gente e, quer ser tratado como gente?
Mas ao
racionar o conhecimento, dizendo o que uma determinada classe deve aprender,
também seus sonhos são racionados.
É o que
nos apresentou Vygotsky com a “zona de desenvolvimento proximal”. Começo pelo
mais fácil, e a cada desafio, me desestabilizo. É preciso se equilibrar, e para
isso me lembrarei da última lição aprendida, e a cada novo exercício vencido,
desenvolvo habilidades.
Só que
em determinada classe social, as lacunas são incompletas, levando os alunos “indivíduo”,
a não só desestabilizar, mas ao abandono e, acaba sendo jogado, junto com a
galera: uma mão de obra barata e, incapaz de ler e pensar.
Quem são
os culpados? Os pais, a sociedade ou o Governo?
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